Organizações ainda sofrem com dispersão de esforços e metas sem sentido, alerta a Report
A ansiedade climática é um mal do nosso tempo, já bem diagnosticado em pessoas. Diante das crises ambientais que se acumulam e das demandas do mercado, muitas organizações vêm sofrendo de uma versão corporativa desse problema.
“Muitas empresas nos procuram já com uma meta – ‘vamos ser neutros em carbono em 2050’. Aí constatamos que a empresa não tem inventário, nunca nem mediu suas emissões”, diz Rachel Alves, gerente de Jornada Climática da Report, consultoria de sustentabilidade e ESG que já atendeu a mais de 300 das maiores empresas brasileiras desde 2002.
Quando a organização começa a se mover sem ter criado uma base sólida para as decisões climáticas, os erros tendem a se acumular – problemas são mal diagnosticados, prioridades são mal escolhidas e a frustração se instala.
“Há no mercado muita dispersão de esforços e metas sem sentido”, alerta Alves. Existe uma forma de prevenir isso: criar uma estrutura de governança adequada, capaz de colocar questões relacionadas a mudanças climáticas no centro das decisões estratégicas.
A Report considera a estruturação de uma governança focada no clima uma ação fundamental para empresas empenhadas na mudança e a incluiu em seu estudo “Jornada Climática – Do Inventário ao Net Zero”.
No estudo, organizado em quatro grandes blocos, a Report lista as ações necessárias para todo negócio disposto a lidar seriamente com o novo cenário. O trabalho parte da experiência dos mais de 2.500 projetos em sustentabilidade já realizados pela consultoria e da análise de 18 companhias líderes globais no tema.
Com essa base, oferece um mapa da jornada climática para empresas, com as normas, estruturas e regulamentações que precisam ser atualmente consideradas na estratégia, na gestão, na comunicação e na educação.
Alves lista alguns primeiros passos importantes para as organizações que estão começando essa jornada: adotar uma política climática institucionalizada, estabelecer premissas, definir boas práticas e formas de monitorar indicadores.
Conforme a organização avançar, vai se deparar com alguns desafios importantes, como aprender a reportar seus problemas e limitações, e não apenas pontos positivos. Mas o maior desafio da governança climática atual, na visão da especialista, é a gestão de risco.
A executiva propõe uma série de questões cruciais para a autoavaliação da empresa nesse quesito: o que se faz no dia a dia para maximizar oportunidades e minimizar riscos climáticos? Riscos climáticos são tratados com a mesma seriedade que os riscos financeiros? São considerados na decisão de compra de um novo ativo? E nos grandes projetos? São levados ao conselho? O conselho os avalia?
Como bons exemplos de governança climática, Alves destaca aspectos em comum na governança de CBA e Klabin, companhias veteranas na pontuação máxima (A) no questionário de Mudanças Climáticas do CDP (anteriormente chamado Carbon Disclosure Project) avaliadas no estudo da Report.
A análise indica que ambas tratam o clima de forma transversal; monitoram continuamente o avanço rumo a suas metas; têm processos muito bem estruturados; fazem gestão cuidadosa da informação; e a alta administração mostra que vê valor nesse esforço.
“Cada empresa tem suas particularidades, mas as similaridades e maturidade dessas duas no trato das questões climáticas chamam a atenção”, diz a executiva.
Observar benchmarks é importante, mas não existe fórmula única para lidar com tais desafios. Em algumas empresas, faz sentido constituir uma Diretoria de Sustentabilidade exclusivamente dedicada ao assunto; em outras, a Diretoria pode acumular diferentes áreas.
Alves acredita que diferentes modelos de governança podem ser adequados, com estrutura e processos desenvolvidos de acordo com a cultura e a história de cada organização. Alguns pontos fundamentais, porém, fazem parte de todos os modelos bem sucedidos – como o envolvimento da empresa inteira, da cúpula à base.